Foram para mim os meados dos anos 80. A atitude anarquista, as roupas aparentemente desleixadas mas que seguiam estreito padrão de inclusão, o penteado (ainda tinha cabelo…saudades!), que tinham como objectivo afirmar-me rebelde, diferente, cool, mas que vendo bem as coisas, só me tornavam igual aos outros que também queriam ser diferentes. Os mais saudosistas dirão que não era mania, era mesmo atitude. Tudo bem, na altura até era atitude, ao certo é que não sabemos bem qual! A vida lá nos trouxe aos actuais caminhos, e alguns, embora não se vistam como tal, ainda serão Punks no âmago. Respeito.
A música, que ainda hoje gosto de ouvir (vejam lá!) era indissociável do movimento…a música era o movimento. Exploited, Sex Pistols, The Clash, Dead Kennedys, Ramones, The Damned, U.K. Subs, Black Flag, Crise Total (abraço ao Manolo!), Ku de Judas (Autista: és o último da lista :P ), Grito Final, Mata Ratos, Velvet Underground, New York Dolls, Pil, Bad Religion, LCD Soundsystem, etc. Sem ordem específica atrás alguns enumerados, vão desde o ProtoPunk até ao mais recente DancePunk (!), passando obviamente pelo PunkRock e pelo Hardcore. Milhares de horas de música de power chords e três tempos ouvi eu, até gastei os meus vinis “Punk and Disordarly” que comprei na Feira-da-Ladra ao Tó. Concertos no Rock Rendevouz (abraço ao Cascão!) e no inesquecível Bar Oceano, incontáveis escolas e algumas garagens. De dia, na Senófila a fazer barulho (no meu caso, confesso) ou na Harpa (Olivais); de noite, cerveja no Marão, moche no Gingão e no Juke Box, submarinos nas Couves e sandes de queijo e torresmos à mistura com flippers à antiga no Ribas (abraço ao Fernandez!), mais cerveja no Tacão (abraços ao Max e ao Agostinho, e porque não, ao velho Veludo), matraquilhos no Apolo, quando ainda os tinha (abraço ao Jaime…ainda te devo 500 paus!). Foi um fartote!
A música, que ainda hoje gosto de ouvir (vejam lá!) era indissociável do movimento…a música era o movimento. Exploited, Sex Pistols, The Clash, Dead Kennedys, Ramones, The Damned, U.K. Subs, Black Flag, Crise Total (abraço ao Manolo!), Ku de Judas (Autista: és o último da lista :P ), Grito Final, Mata Ratos, Velvet Underground, New York Dolls, Pil, Bad Religion, LCD Soundsystem, etc. Sem ordem específica atrás alguns enumerados, vão desde o ProtoPunk até ao mais recente DancePunk (!), passando obviamente pelo PunkRock e pelo Hardcore. Milhares de horas de música de power chords e três tempos ouvi eu, até gastei os meus vinis “Punk and Disordarly” que comprei na Feira-da-Ladra ao Tó. Concertos no Rock Rendevouz (abraço ao Cascão!) e no inesquecível Bar Oceano, incontáveis escolas e algumas garagens. De dia, na Senófila a fazer barulho (no meu caso, confesso) ou na Harpa (Olivais); de noite, cerveja no Marão, moche no Gingão e no Juke Box, submarinos nas Couves e sandes de queijo e torresmos à mistura com flippers à antiga no Ribas (abraço ao Fernandez!), mais cerveja no Tacão (abraços ao Max e ao Agostinho, e porque não, ao velho Veludo), matraquilhos no Apolo, quando ainda os tinha (abraço ao Jaime…ainda te devo 500 paus!). Foi um fartote!
Depois veio uma atitude mais serena e mais em conformidade com as miúdas, o Underground: The Cure, Bauhaus, The Smiths, The Felt, Sonic Youth, Joy Division, Sisters of Mercy etc.; Peel Sessions; O Som da Frente; Doc Martens (Gibsons); Gabardines; Curtinho dos lados e atrás, aparar em cima; Arroz Doce (Grande Julinho e Pedro Punk), Ocarina, Três Pastorinhos (abraço ao Hernâni), Lábios de Vinho, Noites Longas, Incógnito (beijinho à Rute, abraços ao René e ao Fernando), Perfil (abraço ao Alexandre Barbosa), Alfama e Castelo…mas esta é outra história.
Os mais impregnados no Punk chamar-me-ão de intruso e um “puto das ondas”… têm razão, na parte que me toca sei que nunca fui um Punk, se calhar gostava de ter sido, mas nunca fui. Não tive muitas “ondas”, o Punk e o Underground chegaram-me. Depois comecei a trabalhar e lá se foram as “ondas” (as dos cabelo incluídas), não tinha pedal para tudo.
Mas tudo isto para vos apresentar um rebelde dos anos 80 que alguns reconhecerão de revistas como El Víbora e Animal: Peter Pank.
Para mim foi um retornar aos comics, pois foi com este álbum que eu tornei a entrar nos meandros da “nerdice”. Já havia algum tempo que tinha abandonado os comics, pela falta de qualidade dos mesmos e pelos intermináveis crossovers que me comiam a mesada e depois os primeiros ordenados. Anos depois, uma amiga pelo meu aniversário ofereceu-me o Peter Pank, comprado na Mongorhead (em Lisboa na Rua da Alegria nº32/34, acima da Praça com o mesmo nome…abraços ao Tiago e à Cristina!) quando esta ainda era no Centro Comercial Portugália. Fui lá e desgracei-me outra vez no vício.
O Peter Pank foi desenhado e escrito pelo Max (pseudónimo do Catalão Francesc Capdevila). Em 1984 estreou a primeira aventura em álbum com o título “Peter Pank”. Peter Pank é uma paródia hardcore ao já muito adaptado personagem de J. M. Barrie. Enquanto o original é a história de um rapazinho inocente que recusava em se tornar adulto (muito basicamente), o de Max é a de um obnóxio rebelde e beligerante rapagão com uma atitude “No Future”. O enredo do Peter Pank segue, mais ou menos, as etapas da mais conhecida adaptação de Peter Pan, a de Walt Disney. Totalmente impregnado de cultura Punk e anarquista, a caracterização dos personagens está deliciosamente, ou antes, maliciosamente bem atingida: Os Meninos Perdidos são Punks; O Índios são Hippies, que levam porrada a valer dos Meninos Perdidos; Os Piratas são Rockabillies; As Sereias são ninfomaníacas BDSM (Bondage/Descilpinadoras/Sado-Maso) dominatrix. O sexo é explícito e a linguagem é extremamente colorida. Tudo isto alinhado com um desenho muito bom, cheio de pormenores e surpreendentes textos para o género. Acção é coisa que não falta, assim como inúmeras referências estéticas, politicas, sociais e, obviamente, culturais. Também não falta droga, claro. Todos os atributos de um verdadeiro comic underground.
Esta primeira história do Peter Pank começa com a viagem de uma adolescente e seus irmãos, oriundos de um subúrbio de uma cidade Espanhola, à ilha da Punkilandia (no texto original). A acção desenrola-se durante o rapto da princesa Hippie pelo Capitão dos Rockabillies…e que acção! Lutas, perseguições, sexo, drogas, mais sexo e lutas. Tudo acaba com todas as tribos a lincharem o protagonista!
Embora aparentemente tenha sido linchado no final, o epílogo sugere que a história continuará. De facto continuou, Peter Pank é ressuscitado por um sinistro personagem em 1987 no álbum “El Licantropunk”, para gáudio dos fãs. Com este álbum o autor continua a explorar os diferentes grupos ou “tribos” normalmente abraçados maioritariamente pelos adolescentes, neste caso, os Skins e os Góticos. As referências literárias e cinematográficas são amplamente exploradas com os inevitáveis pastiches para as pranchas, desde “Drácula” a um “An American Werewolf in London”, a pormenores onde, por exemplo, aparece o Capitão Haddock e uma paródia ao mapa que inicializa todas as aventuras do Astérix. Mas, neste álbum a vertente mais underground esvaia-se quando o autor tende a abandonar os segmentos de sexo explícito e consumo de drogas. A técnica, a meu ver, melhora com uma aproximação mais evidente à “Ligne Claire”. Este álbum ganha o prémio de melhor obra no salão de BD de Barcelona de 1987.
Em 1990 a veia política do autor sobressai no que seria o último álbum deste irreverente personagem: “Pankdinista!”. O já anteriormente subjacente anarquismo torna-se aqui o elemento principal do enredo. A referência ao álbum dos The Clash, “Sandinista”, é flagrante. O autor repete a exploração das “tribos”, desta feita são os Yuppies, os Heavy Metals (ou Metaleiros, se preferirem) e o pessoal do Hip-Hop. Peter Pank retorna à Pankilandia e encontra-a ocupada por um grupo, os Yuppies, que criaram um Estado, um exército, introduziram corrência monetária e defendem acerrimamente a propriedade privada. O Peter Pank, perante tamanho atentado à sua ideologia, reúne todas as tribos rebeldes debaixo do seu comando e começa uma luta sangrenta contra o poder capitalista que se instalou, que também responde na mesma moeda. Os paralelismos com a revolução Sandinista na Nicarágua são notórios.
Surpreendentemente foi, dos três, o pior álbum. Não sei se terá ditado o fim das aventuras deste Punk, se sim, foi uma pena. Mas não acredito!
Todos estes álbuns foram publicados pela Ediciones La Cúpula, o primeiro pode-se ler em Português na revista Brasileira “Animal”, e em Inglês publicado pela Knokabout/Crack Editions.O autor embora tenha abandonado este personagem continuou a sua carreira na BD e na Ilustração com bastante sucesso, pese o facto que para nós Portugueses continue, infelizmente, um quase desconhecido.