sábado, 15 de novembro de 2008

Y: THE LAST MAN, The Deluxe Edition, Book 1.


No Verão do ano 2002, uma praga de origem desconhecida destruiu todo o esperma, fetos e todos os mamíferos possuidores do cromossoma Y – com a aparente excepção de um jovem homem e de um animal que o acompanha, um macaco Capuchinho.
Este “Génerocidio” exterminou instantaneamente 48% da população mundial humana, aproximadamente 2.9 biliões de homens. Quatrocentos e noventa e cinco dos Presidentes dos Concelhos de Administração das quinhentas maiores empresas mundiais, segundo a revista Fortune, estão agora mortos, assim como 99% dos proprietários de terra ao nível Mundial.
Apenas nos Estados Unidos da América, mais de 95% de todos os pilotos de aviação comercial, camionistas, capitães de navios…também 92% de todos os criminosos violentos. Internacionalmente, 99% de todos os mecânicos, electricistas e trabalhadores da construção civil estão agora mortos…embora 51% da força de trabalho agrícola mundial estar ainda viva.
Catorze Nações, incluindo a Espanha e a Alemanha, têm mulheres soldados que serviram em unidades de combate operacionais. Nenhuma das cerca de 200.000 tropas femininas Norte-Americanas alguma vez participaram num palco de guerra debaixo de fogo real (“engaging combat”). A Austrália, a Noruega e a Suécia são os únicos países que têm mulheres a servirem as respectivas forças-armadas embarcadas em submarinos.
Em Israel, todas as mulheres entre a idade dos 18 aos 26 anos já compulsoriamente serviram, ou servem, o seu país nas forças de defesa por um período nunca inferior a 1 ano e 9 meses. Antes da praga, pelo menos 3 dos suicidas bombistas que se martirizaram eram mulheres Palestinianas.
Mundialmente, 85% de todos os representantes governamentais estão agora mortos…assim como 100% de todos os padres católicos, imãs muçulmanos, Rabis Ortodoxos e outros de muitas outras religiões.
BEM-VINDOS AO MUNDO SEM HOMENS.

Após umas páginas introdutórias que antecedem a praga, em que, desde logo, desabrocha o mistério da origem da mesma, o autor, Brian K. Vaughan, assombra-nos com o texto supra.

Yorick, o jovem sobrevivente deste “Génerocidio”, não deverá o seu nome ao seu Pai, um professor de drama, mas antes ao autor e ao seu sentido de drama. Quem nunca ouviu a frase “to be, or not to be”(Hamlet, Acto 3, cena1)?! Frase célebre da mais longa tragédia escrita pelo Bardo. No quinto acto, cena um, da tragédia, o coveiro exuma o crânio de Yorick. A visão macabra evoca em Hamlet um monólogo sobre os vis efeitos da morte:

Alas, poor Yorick! I knew him, Horatio; a fellow of infinite jest, of most excellent fancy; he hath borne me on his back a thousand times; and now, how abhorred in my imagination it is! My gorge rises at it. Here hung those lips that I have kissed I know not how oft. Where be your gibes now?” (no texto).

Em suma, mesmo perante a vaidade terrena, a morte é inevitável e as coisas desta vida são inconsequentes.

A sensibilidade do autor pode não passar despercebida aos jovens Anglo-Saxónicos, que, por imposição do sistema educacional dos mesmos, não se conseguem esquivar ao paralelismo ou à ironia (em vez de analisarem o que se passou em dada novela das 21h00m ou num qualquer “reality-show”).

Estará apenas no nome do personagem principal desta série a analogia propositada (julgo eu) do autor? Será um memento mori (lembra-te que morrerás) a quem a lê? E se for, é sem dúvida brutal. É o “bobo-da-corte” de serviço, disto não há dúvidas, mas não no propósito dos originais. É o herói da série (pese o facto de esse ser o nome de sua irmã, “Hero”), ao contrário do "Jester" original. Incumbido de ser a salvação da humanidade, ao mesmo tempo que tenta alcançar a sua namorada que se encontra na Austrália, seguimos o périplo aventuroso do personagem e do seu macaco Capuchinho (Ampersand – que é nome Inglês para “&”) e suas constantes e consequentes peripécias. O contexto socio-político, assim como económico, nunca é descurado. As eventuais ligações científicas e também místicas e ou míticas são partes indissociáveis da intriga.
Talvez mais despercebida a esses jovens estará a referência quase escandalosa, se não fosse apanágio do autor em pavoneá-la, à obra de uma das principais responsáveis pela introdução do terror e da ficção científica no género literário, a escritora Mary Shelley. De 1826, “The Last Man” não é basicamente aquilo que este “Y: The Last Man” é; ou vice-versa, será mais correcto. A praga que dizimou todo o género masculino não despoletou e logo de uma assentada matou todos os portadores do cromossoma Y. Foi um processo gradual e dramático (não é que o pressuposto pelo Vaughan não seja também dramático, claro). Não quero deixar aqui “spoilers”, por achar que o “The Last Man” da Shelley deveria ser lido por todos os que gostem de ficção científica, em especial que apreciem dentro do género o tema apocalíptico. A Mary Shelley afirma ter encontrado em 1818 uns escritos proféticos, pintados numa folhas pela Cumaen Sibylla, na caverna de Sibéle em Nápoles (Antro della Sibilla). Os escritos profetizariam o fim do Mundo no final do séc. XXI e foram editados pela escritora e narrados na primeira pessoa pelo personagem principal da sua obra, Lionel Verney. Mais estranho será o facto de esta caverna só ter, de facto, sido descoberta em 1932 (!). De qualquer maneira, para quem é crente nestas andanças, este oráculo era de longe o mais respeitado de todos os oráculos e vale a pena (mesmo para quem não acredite, ou queira acreditar) ler a história: Cumaean Sibyl.


Anteriormente, num outro post neste blog, fiz um pequeno apanhado biográfico e bibliográfico do autor desta excelente série, pelo que é desadequado fazê-lo novamente. Quanto a Pia Guerra, a artista encarregue de dar vida aos textos, nunca o fiz. Só agora comecei a ler esta série por algumas razões que passo a descrever: a Vertigo não oferece qualidade nas suas publicações e faz com que isso afecte a arte original; Peguei por várias vezes nos TPB e a arte da Pia Guerra não me convenceu. Pensei que fosse só por ela, mas afinal era também da qualidade do papel que a Vertigo utiliza nos seus TPB. Adquiri a edição especial em hardcover (“The Deluxe Edition Book One”), e pese o facto da dust-cover não ser das melhores, o papel de impressão é substancialmente melhor do que os das edições “trade” (mas não consegue atingir a qualidade dos da Marvel). A arte, embora não capte muito bem o movimento e a velocidade, acaba por me convencer sem me deslumbrar. Esta série foi a grande oportunidade desta artista Canadiana, pois já trabalhando desde meados dos anos 90 em vários títulos independentes, foi com esta série que se afirmou na Industria ao ganhar os conceituados prémios Eisner e Shuster.

Esta edição “deluxe”, livro um, compila os primeiros 10 comics da série em 246 páginas mais 8 páginas de skecthes da Pia Guerra. Assombrosamente (ou não), os sketches da Pia são muito, muito bons. Talvez preferisse muito mais ler esta série sem as colaborações do José Marzan, Jr.(inker) e da Pamela Rambo (colorist). As capas originais também marcam a presença do grande J.G. Jones (já referido no post “Wanted”). A série é composta por 60 comics, por isso poderemos contar (eu espero que sim) com mais cinco edições de luxo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

LITTLE LULU: MENINA NÃO ENTRA? (*)

Quem não se lembra do clube dos rapazes da rua de baixo – East Side – que reuniam num barracão, no qual, na fachada, lia-se “menina não entra”? O Bolinha, o Careca, o Juca e o Zeca (Tubby, Iggy, Willy Wilkins e Eddie Stimson, respectivamente, no original) urdiam planos para humilharem as meninas da sua turma; ao mesmo tempo refugiavam-se da turma do Norte (The West Side Boys), eternos arqui-inimigos da parte mais desfavorecida da Cidade. Pese o facto de os rapazes serem maiores fãs do Bolinha França (Thomas “Tubby” Tompkins, no original), a verdadeira heroína desta turma é, de facto, a Luluzinha Palhares (Lulu Moppet, no original). Será uma ironia o aviso expresso na parede do barracão do clube dos rapazes, pois se não fosse pela Lulu nunca teria existido a famosa turma.

Little Lulu é uma criação da já desaparecida Marjorie “Marge” Henderson Buell (1904 – 1993). A Marge foi uma das mulheres pioneiras na profissão de cartunista, profissão amplamente – ainda hoje – dominada pelos homens. Em 1920 publicou o seu primeiro trabalho e em 1925 o seu primeiro trabalho “syndicated”, “The Boy Friend”. Em 1934 foi contratada pelo Saturday Evening Post e em 1935, naquela publicação, surgiu o primeiro desenho da Lulu. Só passados 9 anos é que o personagem começou a ser publicado diariamente nos jornais. O sucesso foi tremendo e tornou-se um fenómeno de marketing. A Marge detinha os direitos sobre o seu personagem (o que, naquele tempo, era raríssimo) e foi a principal beneficiadora do sucesso da sua criação. Em 1947 deixou de desenhar ela própria as histórias do personagem tendo, no entanto, mantido o controlo criativo do mesmo, desenhado desde então por John Stanley. Em 1971, Marge decidiu reformar-se e vendeu os direitos à Western Publishing. Ainda hoje os seus trabalhos originais são muito disputados nos leilões, atingindo consideráveis valores. Comics das editoras Dell e Gold Key são altamente coleccionáveis. A editora Norte Americana Dark Horse, muito recentemente, reeditou cronologicamente em 18 volumes as aventuras da “Little Lulu” (e sua turma) e mais um volume fora-de-colecção a cores pela iniciativa e amor aos personagens de John Stanley. As aventuras do personagem foram exportadas para diversos países (Japão, Grécia, Arábia, Finlândia, Espanha, e, claro, Brasil). A Devir Brasileira tem os livros da Dark Horse traduzidos para Português.

Até nós, Portugueses, chegou-nos do Brasil e também foi um sucesso. Guardo com cuidado esses gibis, pois confesso, ainda hoje gosto de reler as aventuras dessa turma e embora as reedições da DH sejam de grande qualidade, faltam-lhe alguns dos trabalhos que eu mais gosto. Entre essas aventuras que faltam, a minha favorita é sem dúvida “Summer Camp”, publicada nos anos 70 pela “Editora Abril” (originalmente pela Gold Key comics em formato gigante). É uma mega aventura muito ao estilo das férias da pequenada Norte-Americana (campo de férias), muito divertida, extremamente bem escrita, onde se inclui uma das famosas histórias inventadas pela Lulu com o intuito de dar uma lição de moral ao terrível Alvinho (Alvin Jones, no original) onde Meméia e a Alcéia atormentavam a Pobre Menininha.
A editora Abril publicou um total de 227 números (1974 – 1992) com periodicidade mensal. O tamanho inicial era o chamado formatinho (21x13,5) e manteve-se assim até ao número 67. A partir de número 68 e até ao final foi publicado no formato (19x13,5). O número 1 é uma edição especial das Diversões Juvenis (lembram-se do Alceu e Dentinho? Rocky & Bullwinkle, no original); a numeração apenas se iniciou na capa do número 3.
Antes da editora Abril, no Brasil, foram publicados pela editora O Cruzeiro (algumas destas revistas, em formato Comic, aparecem esporadicamente no Miau.pt).
Nos EUA a DELL publicou 268 números (1947 – 1984).

Para além dos já mencionados personagens, podem também lembrar-se do Plínio (Wilbur Van Snobbe), da Glorinha (Glory), da Aninhas (Annie), Dona Marocas (Miss Feeny) do Seu Jorge Palhares (George Moppet) e da D. Marta Palhares (Martha Moppet), do grande detective “O Aranha” (“The Spider”), que não era outro se não o próprio Bolinha e muitos outros inesquecíveis personagens.

As histórias eram aparentemente simples, mas continham nelas todo o quotidiano das normais crianças dos anos 30/40 do século XX, indo adaptando-se aos tempos, mas sem nunca perder o ideal da infância feliz, livre e despreocupada que se tem vindo a perder nas décadas mais recentes. A moral era forte, a escrita, há semelhança dos outros comics, é que não era exemplo para nenhuma criança: maneirismos e contracções próprias da fala reflectiam-se na escrita. Não existiam mensagens políticas, nem existencialismos disfarçados de crianças. Eram e são histórias para crianças que só precisam de ser isso mesmo.
Eu, embora adulto, ainda gosto de revisitar essa ingenuidade, por momentos sentir-me ainda criança. Só tenho conseguido este breve e quase efémero sentimento, enquanto leio, nos personagens da Harvey e nos da Marge. Quando não leio, é fácil: brinco com o meu filho. Nunca hei-de ser velho ao ponto de não tentar sentir-me como uma criança.




(*) Menos a Diabba (estava feito ao bife, se não abrisse a excepção, como podem ver pelo exemplo de cima).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SPEED RACER, GO, GO, GO!

Speed Racer! Vi ontem o filme dos irmãos Wachovski e fiquei banzado. Estes irmãos conseguiram, mais uma vez, espantar-me com mais uma grande produção de efeitos visuais vertiginosos e estonteantes (literalmente), também marcadas por uma beleza cénica , um tanto ou quanto kitch (é certo), pouco vulgar, mas bastante vincada e que me agradou imenso. Se forem eventualmente susceptíveis àquelas hipnóticas imagens dos jogos, o melhor é não verem, senão arriscam-se a um ataque epiléptico. É um filme de acção; espirituoso pelas interpretações do “irmãozinho” mais novo do Speed Racer e seu chimpanzé maravilha; repleto de vilões extremamente bem caracterizados; com uma história muito bem escalonada e coerente; com interpretações a um muito bom nível; fantásticos bólides com OH! SO NERDY e detalhadas especificações técnicas de cada um; muitas corridas completamente, absolutamente, fabulosas e arrepiantes. Como podem ver, adorei. O mesmo não posso dizer do resto do Mundo, pois o filme foi um enorme flop de bilheteira: custou mais de 120 milhões de Dólares e rendeu cerca de 90 milhões!

Mas este é um blog sobre BD, Comics e afins, por isso poderão (alguns) estar-se a perguntar: E então, o que é que isto tem a ver?! Bem, tudo. Este personagem (Speed Racer) nasceu como uma Manga, em 1966, onde originalmente o personagem dá pelo nome de Mifuno. A Manga (estilo Shuisha Shonen, em formato tankobon) chamava-se Mach GOGOGO (マッハGoGoGo, Mahha GōGōGō?) e foi criada por Tatsuo Yoshida. Em 1967 foi adaptada para Anime pelas Produções Tatsunoko pela mão do mesmo Tatsuo. Chegou ao Ocidente (Inglaterra) e foi traduzido para Inglês como “Speed Racer, Mach GoGoGo”. Mais tarde, os Norte-Americanos adquiriram os direitos.

As aventuras rodam à volta de um jovem que é apaixonado por corridas e que corre o Mundo dedicando-se à sua paixão. Cada história traz um enredo novo, de mistério e acção, onde toda a família do jovem herói o acompanha, desempenhando papéis relevantes. O outro grande herói destas aventuras é o fantástico e ainda hoje muito actual (futurista mesmo) Mach 5, o carro de corrida desenvolvido pelo Pai (Pops) do Speed Racer. Mach 5 no Ocidente, porque “Go” é a palavra Japonesa para “5”, daí “Mach Go” e depois de traduzido para o Inglês, “Mach 5”. As corridas são marcantes por não terem barreiras nem limites de lealdade e onde os bólides são capazes das mais incríveis acrobacias

Eu conheci este personagem através da Editora Abril, nos anos 70. Tenho alguns destes gibis, decidi ir à procura deles e mais uma vez deleitar-me com a sua leitura. Não foi uma decepção, mas também não me deleitei. O estilo demasiado juvenil já não me conseguiu de novo cativar.
Haveria muito para escrever sobre o Speed Racer, pois há uma legião de fãs que acompanha este herói desde a sua criação. Não vou aqui descarregar toda essa informação, pois não a acho assim tão interessante, vista ao pormenor. Ficam algumas imagens e o conselho de verem o filme. É um filme para toda a família, os miúdos vão adorar. O jogo também não teve as melhores críticas (falta-lhe a velocidade marcada pelo filme).

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

FABULOUS FURRY FREAK BROTHERS


Para além de ter estado de férias, sofri também de “bloqueio de escritor”. Andava às voltas na minha colecção para ver se conseguia estar à altura dos elogios de quem lá vai lendo este blog me tem feito (os quais e às quais, obviamente, agradeço). Conseguir arranjar ideias para aqui colocar banda desenhada ou comics que o pessoal eventualmente conheça pouco, ou não conheça mesmo, não é nada fácil. Daí ter passado os olhos por estes estarolas e ter logo sorrido. Não acredito que não conheçam estes “dop-heads”, nem que seja dos álbuns que a editora Brasileira, L&PM, nos trouxe.
Descobri estes “gandas malucos” nos idos anos 80, onde, segundo o meu perfil, eu era um doudo. É certo que já experimentei fumar charros…e inalei, pois está claro. Também poderão conhecer a substância por besego ou besegol, bobs, xamon, shit, ganza, karate combien, haxixe e eu sei lá mais o quê – aliás, lanço aqui um passatempo: digam nomes para os quais a substância estupefaciente poderá ser conhecida. Também fica a questão: quanto é que é uma dose individual de haxixe?!!! Sempre me perguntei quanto é que seria…meio-conto?! Um pintor?! Será à grama?! Também tem que ficar óbvio que não sou apologista que quem quer que seja experimente tal coisa. Sou hoje muito propenso a aconselhar exactamente que nunca experimentem tais coisas. Foi divertido? Houve vezes que sim; houve outras que não. Compensou o dinheiro e a perda de neurónios, para além de ter me ter arriscado a maleitas de difícil recuperação? Absolutamente NÃO. O mesmo direi e veementemente mais convicto de outras substâncias proibidas “mais pesadas”, embora não tenha experimentado, entre muitas outras, a mais odiosa de todas, a Heroína (vi o que ela fez a alguns dos meus mais próximos amigos para saber que não se olha para o cano de uma arma carregada e extremamente instável!). LSD, PCP, Mescalinas e companhias limitadas também foram por mim sempre banidas de qualquer experiência…sabe-se lá como cada um reage a tais cenas (tive um amigo que ainda hoje, 20 anos depois, não se reconhece ao espelho). A ganza também pode ter esse efeito. Parece mentira, mas é verdade. “Cada um é como cada qual”, diz o povo; também dizem “a mim isso não acontecerá”…pois…mais vale não arriscar, pois pode-se petiscar muitas outras coisas com um risco muito, mas muito mais ponderado. Bisonte Gordo falou.

Tendo feito o que me competia, passo agora aos janados que aqui me trouxeram (onde a Marijuana é rainha): os Fabulous Furry Freak Brothers e seu criador, Gilbert Shelton (e não Sheldon, como muitos o gostam de chamar).
O Gilbert é Texano e é rapazinho para 68 anos, e claro está, viveu o auge da década de 60 e 70, tendo mesmo sido amiguinho da Janis Joplin (pois…não me admira nada) e do Robert Crumb. Tendo jeito para o desenho e tendo, também, um espírito cáustico, não faltou muito para, sobre o efeito de algumas tristemente célebres drogas (ou na ressaca destas; fossem canabinóides psicotrópicos, fossem engenharias farmo-psicadélicas), ter criado a tripla mais mócada da história dos comics. Se os Três Stooges fumassem “charutos” e fossem um bocadinho mais inteligentes (tirando o caso do Fat Freddy) poderiam interpor um processo por plágio. Para além de ser o autor desta imbatível tripla, o Gilbert também é autor do “Fat Freddy’s Cat” (um spin-off da série), “Not Quiet Dead” e da série “Wonder Wart-Hog”. Também foi o artista da capa do álbum “Shakedown Street” (1978) dos Gratful Dead.
O Gilbert nunca foi, talvez surpreendentemente, um alvo preferido da censura Norte-Americana. A explicação prender-se-á pelo facto das suas publicações terem sempre sido muito undergroud. Mas despertou a ira do Joe Shuster (co-criador do Superman) pela criação do personagem “Wonder Wart-Hog”, o suíno de aço. Publicado em 1961 (antes dos FFFB - 1968), o personagem é um tímido repórter que se transforma num machista chauvinista, reaccionário e repressor, dono de um pénis minúsculo e de um apetite sexual neurótico nunca saciado. Pela obnóxia paródia à criação de Shuster, mereceu o descontentamento deste.

Os Freak Brothers apareceram em 1968 nas publicações undergound “Rip of Press”. Quando esta fechou, continuaram a ser publicados pela “Playboy” (não se vê só gajas nuas na Playboy; eu comprava-as pelas BDs que traziam, claro!), “High Times” e “Rip of Comix”; também eram depois editadas em formato comic. Shelton teve a colaboração dos grandes Paul Mavrides e Dave Sheridan (podem-se ver as histórias compiladas destes três fabulosos artistas nos números 6 e 7 da série). A última história dos Freak Brothers foi já há 16 anos. Têm 12 números (mais um número 0) em comics.

Os Freak Brothers são aparentemente uma leitura divertida e desligada. De facto, sempre se preocuparam em atacar a ala mais conservadora da política vigente. Debatendo-se por liberdades que o Estado restringe, foram sempre um bastião na luta pelas liberdades civis (principalmente as mais extravagantes).

Os personagens são do mais dispare que se possa imaginar:
Freewheelin’ Franklin é o espertalhaço, criado num orfanato sem nunca ter conhecido outra casa que não fosse a rua, vestindo-se à cowboy, até poderia ser um biker se não gastasse o guito todo na “tchouza”.

Phineas T. Freakers é o intelectual e o idealista do grupo; criador de novas drogas; activista político e ambiental; guedelhudo convicto. É o estereótipo do radical de extrema-esquerda no seu melhor. Por incrível que possa parecer, o Phineas é Texano (um dos mais conservadores estados do EUA) e apesar de ser filho de uma Mãe (hehehe) mais ou menos liberal, o seu Pai personifica o cúmulo do “conservadorismo”.

Fat Freddy Freekowtsi é que nem um penedo! Burro como uma porta! Consegue estragar o negócio mais fácil, e quando não estraga na altura, mais tarde compensa. Ávido consumidor de MJ (que, aliás, é o que todos eles mais consomem), tem um apetite à altura da sua janadice. Na ressaca, come mais do que um cavalo. Não há frigorifico que resista à desmesurada gula deste mentecapto acéfalo pelas drogas que já consumiu, embora digam que já antes de ter abraçado o vício já assim o era.

O “Fat Freddy’s Cat” não aparece, por hábito, nas aventuras dos mitras que aqui descrevo. Tem o seu lugar no rodapé dos comics ou em páginas só suas. Estão a ver o Garfield ou outros gatinhos mais cutchis? É que não tem nada a ver. É um velhaco que até dói à alma. Refere-se ao seu dono como “o obeso” (“the obese one”).

Dos outros personagens secundários destaco o inesquecível Norbert the Nark, o frustrado némesis dos Freak Brothers. Por si só um tratado.
É bastante fácil encontrar estes comics, mesmo em Português (no Brasil). Mesmo que nunca tenham fumado um joint na vida…e inalado…(e se não, não comecem agora sff), posso-vos garantir que gargalhadas são garantidas.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

BÉCASSINE, A MÃE DA "BANDE DESSINÉE"

Nariz de ervilha, carinha redonda, faces rosáceas, tamancos nos pés e guarda-chuva debaixo do braço, lá foi a ingénua e provinciana Bécassine viver, qual Cândido de Voltaire, as suas aventuras no Mundo. Objecto de estudos, como o do Historiador Bernard Lehambre em “Bécassine, une legende du siècle”, este personagem é de facto merecedor de tal, pois ela é a pioneira da mulher activa e moderna, que se multiplica em profissões, pratica desportos, faz fotografia, pilota automóveis, aviões, comboios e milita em programas humanitários como a Cruz-Vermelha (1ª Grande Guerra). Eu, embora seja um grande admirador do personagem, não sou o fã que é a bloguista Sheila Leirner, que assim a descreveu. Portanto não arranjei melhores palavras, daí ter descaradamente e praticamente transcrito as dela.

Bécassine é reconhecidamente a primeira heroína feminina protagonista na história da Banda-Desenhada. Criada quase que à pressa para, em 2 de Fevereiro de 1905, preencher uma página em branco de uma revista que tinha como alvo as moçoilas do início do século XX, “La Semaine de Suzette”, tornou-se num fenómeno de sucesso, pelo que essa página passou a ser obrigatória no semanário. Só em 1913 é que Bécassine teve direito a ser publicada em formato de álbum. Até 1939 foram publicados 25 álbuns, tendo em 1992 sido lançado o vigésimo sexto álbum que não foi publicado anteriormente devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Em 1959 reiniciou-se a série, com outros autores (o primeiro escrito por Camille François e desenhado por Trubert; os outros dois escritos e desenhados por Trubert). No entanto, as aventuras vividas pela Bécassine na primeira série (que para além dos 25 álbuns ainda contou com mais dois álbuns “fora da série”) ainda hoje são reeditadas. Teve também direito a adaptação cinematográfica em 1939 e a uma longa-metragem de animação em 2001.

Os seus criadores foram inicialmente Jacqueline Rivière (escritora) e Joseph Porphyre Pinchon (desenhador). A partir de 1913, com a evolução para histórias mais estruturadas, a escrita passou a estar ao cargo de Caumery – pseudónimo de Maurice Languereau – um dos associados da Gautier-Languereau, editora responsável pela edição do semanário “La Semaine de Suzette”. Nessa altura foi revelado o nome do personagem: Annaïk Labornez. Todos os álbuns da série foram desenhados pelo talentoso Pichon, com excepção de dois: “Bécassine Chez les Alliés” (número três, de 1917) e “Bécassine Mobilisée” (número 4, de 1918) que foram desenhados por Edouard Zier. Caumery morre em 1941, mas o seu pseudónimo continuará a ser utilizado por outros escritores. Pinchon morre em 1953 e em 1959 Trubert retoma a série; apesar de talentoso, não logrou desenhar mais do que três álbuns.

Bécassine é, indubitavelmente, a precursora da Banda Desenhada Franco-Belga moderna. Marca profundamente a passagem dos contos ilustrados para a verdadeira Banda Desenhada, ou arte sequencial. O seu estilo de desenho, com linhas vivas, modernas e redondas, definiu a chamada “ligne claire” da qual “As Aventuras de Tintin” são, 25 anos depois de Bécassine, o mais bem conseguido e atingido resultado final (Jacques Martin, Pierre Jacobs, Ted Bennoit, Daniel Torres, entre outros, também são exemplares em empregarem esse estilo).
Bécassine é uma jovem empregadinha Bretã, costumizada no traje tradicional e é desenhada sem boca (embora o traje seja mais associado ao habitantes da província Francesa do Norte, Picardy, ela é descrita como sendo da Finistère, Bretanha). Basicamente é um estereótipo da imagem pela qual os Bretões de então eram vistos (ou imaginados) pelos citadinos. Ela é a rapariguinha humilde e de tratos simples da província, vista pelos olhos dos citadinos mais refinados de Paris (publico alvo da “Semaine de Suzette”). Ao longo da série, fruto do sucesso do personagem, é cada vez mais e mais favoravelmente retratada.

Apenas possuo um álbum desta verdadeira heroína e mãe da Banda Desenhada, o quinto, “Bécassine en Apprentissage” (ed.1919); está em excelente estado de conservação e é uma das jóias na minha colecção. Tenho pena de não ter um scanner de grandes dimensões para poder partilhar com vocês a imagem deste e doutros álbuns de maiores dimensões. Está na minha lista de compras a fazer, para poder trazer uma nova rubrica a este blog: Jóias da minha colecção…se calhar parece um bocado pretensioso, mas garanto-vos que não, tenho lá jóias que são de latão, mas para mim valem como o ouro.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

NOCTURNALS Vol I: BLACK PLANET AND OTHER STORIES.

Não faz muito tempo foi lançada uma edição especial que provavelmente passou despercebida aos leitores habituais de comics do nosso burgo: NOCTURNALS Vol I: BLACK PLANET AND OTHER STORIES. Nocturnals é uma série de enorme qualidade trazida até nós por um dos mais talentosos “one man show” da Industria dos Comics: Daniel Brereton (à esquerda em auto retrato datado de 1989). Escritor, ilustrador, pintor. É um dos últimos e já muito raros artistas completos que subsiste inteiramente pelos comics. Debutou em 1989, acabadinho de sair da Escola de Artes, com a galardoada mini-série “Black Terror” (Eclipse Comics); desde então nunca mais parou. O seu curriculum é invejável e extenso.

O Dan cria, desenha e pinta os seus comics de forma a serem por si só uma obra de arte quase sem paralelo. Cada prancha é transposta para o formato comics com generosas dimensões, o pormenor é meticuloso. É uma mistura de estilos, que por si só, tinha tudo para não funcionar. Ele é pulp, horror, novela Lovecraftiana, western, mistério, crime e eu sei lá mais o quê! Uma plêiade de géneros concatenados numa história que absolutamente nos deixa de boca aberta e olhos arregalados. A cor, o movimento único, os personagens saídos do imaginário colectivo, capturados e depois libertados no aparente caos desta série é só e só incrível. É impossível não concordar que o que parecia impossível de funcionar, afinal funciona…e de que maneira!
Doc Horror e os seus improváveis muchachos são as vedetas desta série. Os personagens habitam a noite do mundo das histórias e existem indetectáveis enquanto as pessoas normais dormem. Neste mundo, os humanos regulares não são expostos ao fantástico. As histórias dão-se ao abrigo da escuridão, fora do alcance da percepção, onde elas de facto pertencem. O autor partilha que o assombrava desde criança tudo o que se passava de noite, fosse algo de tão natural como uma sirene ou um cão a ladrar ao longe. Daí a única excepção ser o elemento criminal que poderá transparecer para o “nosso” mundo, pelo receio da perda do controlo que o herói, Doc Horror, por vezes padece. Mesmo assim, a tenebrosa escuridão é misteriosa e assustadora, e os Nocturnals nestas histórias vivem no mundo deles enquanto nós vivemos no nosso.

Este título limitadíssimo a apenas 23 livros assinados, numerados, em hard leather cover, com a capa pintada à mão pelo autor, é uma das maiores “jóias” dos comics nos últimos anos. Para quem não teve a sorte de conseguir adquirir esta jóia, tem a oportunidade de o adquirir numa outra edição limitada a cerca de 3500 números, também em hardcover e por um muito simpático preço (cerca de $30.00 USD), trazida até nós pela Olympian Publishing. Existes mais duas edições especiais: uma limitada a cerca de 500 números e outra com 1000 números.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

DEUS DEBAIXO DA MÁQUINA

É a tradução ad litteram da expressão Latina “Deus ex machina”. Esta expressão, no entanto, surgiu na antiguidade clássica helénica, muito utilizada no teatro, referindo-se a um improvável, inesperado ou inverosímil objecto, personagem ou situação repentinamente introduzido na tragédia e ou na comédia para deslindar um complicado e já difícil enredo. Foi de facto uma forma um tanto ou quanto fácil, mas ao mesmo tempo inteligente – por acudir aos menos atentos, ou aos menos mentalmente afortunados – de magnanimamente terminar e explicar a peça. Basicamente, no teatro Grego, este dispositivo consistia, no final de cada uma das peças, em fazer baixar um qualquer Deus (normalmente seria o mais adequado à exigência da situação) através de um guindaste até ao palco, onde por sua vez começaria a explicar e a deslindar a trama.
A expressão ainda hoje é utilizada, mas para indicar um qualquer desenvolvimento de uma qualquer história que não leva em consideração a sua desejada lógica e se torna, ou apenas é, tão inverosímil que permite ao autor terminá-la com uma situação improvável porém mais conciliadora. Deus ex machina também pode descrever alguém ou alguma coisa que aparece e resolve uma dificuldade aparentemente insolúvel; poderiam alguns considerar que figuras de proa na utilização deste dispositivo seriam os escritores Agatha Christie e Sir Arthur Conan Doyle, por exemplo, mas realmente não se enquadram, pois fundamentam motivos ao longo de toda a história preparando a apoteose de forma consolidada. Hoje em dia será muito pouco recomendável recorrer a este artifício, por ser demasiado “preguiçoso” e talvez demonstrar incapacidade da parte de quem escandalosamente o utilizar.
Deus ex machina também se caracteriza pela aplicação de uma revelação, dentro de uma história vivida por um personagem, que envolva realizações pessoais complicadas e ou perigosas e ou mundanas e, eventualmente, na sequência de eventos aparentemente não relacionados que acabam por conduzir ao ponto fulcral da trama principal (isto é muito observado na série Lost, através do que se conhece também como flash-back).
Deus ex machina não é exclusivo da ficção. Na vida real, os “heróis” estarão muitas vezes abrangidos pelo conceito, por razões já supra mencionadas.

Entendendo a expressão será provavelmente mais fácil ir de encontro à ideia do não muito original autor. Os conceitos que este autor recria são já muito batidos: o último homem à face de uma terra apenas povoada por mulheres; a guerra por um ponto de vista que não a dos homens; a politica e o providencial e inverosímil super-homem que a mantém limpa, ou menos suja; ou o mais misterioso, aparentemente desconexo ambiente, carregado de inverosímeis situações, personagens e objectos. Mas é na recriação destes conceitos que Brian Keller Vaughan acaba por ser brilhante, um mágico, segundo Brad Meltzer (consultor do FBI, da CIA e do DHS; co-criador de TV; premiado escritor de ficção e comics – "Identity Crisis"). Os seus textos absorvem-nos para a trama, pelos seus textos detalhados, inteligentes, por vezes apenas insinuantes, cheios de corpo, umas vezes acutilantes, outras, um marasmo de dúvidas. Não é realmente à toa que se tornou numa referência da escrita dos Comics e mais recentemente da televisão. Nos Comics colecciona sucessivas nomeações para os mais creditados prémios da Industria, tendo já arrebatado alguns. Títulos como "Y – The Last Man" (prémio Eisner best series 2008), "Ex Machina", "Runaways", "Ultimate X-Men"; “Pride of Bagdad”; e a sua estreita colaboração na escrita dos argumentos da arrebatadora série campeã de audiências “Lost”, fazem dele um dos Homens da actualidade. Vaughan já passou pelas principais editoras e já deixou o seu timbre em imensas e improváveis (pensaríamos nós) séries e personagens; desde a sua estreia com o "Cable" até "Ka-Zar", passando por um “What if?”, também no "Batman" e "JLA", até à "Buffy, the Vampire Slayer", entre muitos outros.

EX MACHINA é que me traz aqui. Já há muito tempo que andava intrigado pela série, quando soube do lançamento da edição especial em hardcover (ou cartonado, se preferirem) que compila os primeiros 11 números, decidi esperar. Longa foi a espera, mas acabou por compensar, pois a edição tem acabamentos muito cuidados e de extrema qualidade. No entanto é muito fraquinha quanto a extras; para quem gosta destes, nesta edição apenas terá a proposta original do autor para esta série, com alguns desenhos e estudos de personagens.
A história, para quem (como eu até há pouco tempo) desconhece (ia), passa-se no período consequente à tragédia do 9/11 e debruça-se no personagem Mitchel Hundred, o novo e independente Mayor de Nova York. Vaughan começa esta série não pelo princípio. Nós somos apresentados ao personagem principal pelo próprio, e já no fim do enredo. Segundo Brad Meltzer, na introdução, EX MACHINA começa com uma confissão – provavelmente uma desculpa – do terrível desastre causado pelo próprio Mitchel Hundred em 2005. Não começa como um Super-Homem, a sorrir e a salvar o mundo envolto na bandeira. Antes, ele lamenta-se tal Rei Lear, contando-nos secamente que “it may looks like a comic, but it’s really a tragedy.” Logo nesta primeira página, o autor, dá-nos logo o fim. Faz-nos uma promessa. Ele diz-nos – promete-nos – que se tivermos dispostos a ouvir, esta vai ser uma das mais devastadoras, horríveis, tragédias que alguma vez o olho Humano testemunhou. Ele garante-nos que o personagem por quem nós vibramos irá miseravelmente falhar. Irá ser uma carnificina. Este é o desafio: será que conseguiremos afastar o nosso olhar?! Afastar o nosso olhar da complexidade do ego do Mitchel Hundred; das nuances dos personagens que também habitam a história, como Kremlin, Bradbury, Mom, Zeller, e os outros? Não há dúvidas que esta é uma história de política. Não apenas politica, mas ciência politica no seu todo, institucional, do aparelho e seus constituintes, suas batalhas sobre as próprias condições e fraquezas. Também é a história de um “super-herói”, o primeiro do Mundo, “The Great Machine”.

Como qualquer leitor de comics (em especial) sabe, tudo descambaria num redondo falhanço se a arte que acompanha qualquer argumento – por mais brilhante ou genial que este possa ser – não estivesse à altura. A esta série, Tony Harris dá-lhe vida. Vida a sério. Tony Harris consegue captar tudo o que existe num ser humano e mesmo na cidade e resto do Mundo que o rodeia. A beleza, a fealdade, a juventude e a velhice são desenhadas sem meias medidas, apenas como as coisas e as pessoas são: imperfeitas, logo com autenticidade. Este artista de 39 anos, mas com cerca de 20 anos de experiência, já passou por todas as grandes casas da indústria dos comics desenhando séries e personagens bastante conhecidos de todos nós. Vencedor de dois prémios Eisner, um pela série STARMAN, outro por EX MACHINA, está agora a trabalhar para lançar uma série sua. Ficam aqui as imagens (fotografias) que serviram de modelo à criação dos personagens Bradbury, Kremlin e Mitchel.

Não menos importantes, embora raramente mencionados, são os responsáveis pela arte-final e pela coloração das obras. Portanto faço questão em mencioná-los aqui.
O responsável pela arte final desta série é o Tom Feister. Feister é já presença habitual na arte final de muitas séries de renome, caso dos Fantastic Four ou Iron Man, entre outras.
O responsável pelas cores é o JD Mettler. O JD também já tinha trabalhado para a Marvel e para a DC (anteriormente) e desde que chegou a esta série ganhou uma nomeação Eisner para melhor colorista e inúmeros convites (que tem aceite) para trabalhar com as maiores empresas nos mais famosos personagens até hoje criados.

EX MACHINA deluxe edition book one, assim como a série, são da responsabilidade da Wildstorm Productions, inprint da DC Comics, a Warner Bros. Entertainment Group.
É uma obra muito séria, mas o humor subtil também não falta. Para quem não gosta de política, talvez não seja a melhor escolha. Para quem gosta de se sentir desafiado a embrenhar-se num argumento complexo, então será muito generosamente recompensado. Em suma, leitores inteligentes precisam-se.